Carregando...
A mandioca é uma cultura bastante promissora na futura produção de etanol a partir de matérias-primas alternativas à cana-de-açúcar. Os estudos sobre o potencial da cultura para biocombustível pretendem complementar a produção gerada pela cana e trazem como vantagens uma maior eficiência energética por planta e, principalmente, o plantio em áreas secas e na Região Amazônica, em que a cana-de-açúcar não pode ser cultivada.
Diversos pesquisadores dedicam-se a estes estudos e, no Brasil, já existem, pelo menos, duas linhas de pesquisa diferentes. Uma delas, do Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat), da Universidade Paulista, testa o desenvolvimento de cultivares de mandioca com maior concentração de amido por planta, para aumentar a eficiência energética de cada mandioca. Já a Embrapa Cenargen aponta um caminho diferente. Os pesquisadores da unidade apostam no uso das mandiocabas, que são mandiocas açucaradas, ou seja, acumulam açúcar ao invés de amido. Ambas as linhas de pesquisa estão apresentando resultados animadores, mas também têm alguns desafios a serem enfrentados.
— Com este recente zoneamento agrícola, o bioma amazônico e pantaneiro não vão mais poder ter produção de cana-de-açúcar, nem para a açúcar nem para etanol. A planta mais indicada como fornecedora deste carboidrato é a mandioca, até porque ela é de origem amazônica. Não tenho dúvidas de que esta tecnologia que nós estamos estudando vai servir bem para estes modelos. Temos um projeto em que estão sendo avaliadas algumas variedades com maior potencial. A mandioca propicia uma maior incorporação de produtores da agricultura familiar, diferentemente da cana de açúcar, em que há participação de uma agricultura industrial de maior porte. A mandioca traz sustentabilidade não só econômica como ambiental e também social — explica o professor Claudio Cabelo, vice-diretor do Centro de Raízes e Amidos Tropicais.
No caso das pesquisas do Cerat, coordenadas por Cabelo, a maior dificuldade seria na pós-produção, porque ainda não existe uma tecnologia completamente desenvolvida para fazer o processamento do amido de forma economicamente viável. Ainda é preciso fazer estudos em relação a este aspecto para que se facilite a conversão do amido da mandioca em álcool. Por outro lado, os benefícios são muitos. A mandioca oferece uma grande concentração energética por planta. Segundo o pesquisador Luis Carvalho, da Embrapa Cenargen, em termos de energia, a mandioca tem de 14 a 16 mil quilojaules por grama de amido, enquanto a cana-de-açúcar oferece oito jaules por grama de sacarose. Cabelo também comemora a eficiência energética da raiz. Ele diz que as concentrações de substrato de amido podem ser variadas e isto implica numa maior produção de álcool na mesma unidade. Comparativamente, a cana-de-açúcar tem 15% de açúcar no caldo e com o amido é possível regular esse valor para mais de 20%, o que implicaria menor gasto com água e com energia.
— Com a produção da mandioca, eu recupero em combustível o que eu invisto na produção. A relação é mais ou menos de 1,66 jaules para cada jaule investido na sua produção. Então, sob esse aspecto ambiental, a mandioca é positiva também. As nossas pesquisas já saíram do laboratório. Essa planta piloto vai permitir responder muitas perguntas que ainda permanecem quando a gente leva as pesquisas para o campo. A produtividade a partir do amido é muito mais significativa do que quando se utiliza a mandioca açucarada, que tem uma baixa concentração de carboidrato, o que economicamente se inviabiliza. As cultivares mais indicadas são as que têm amido porque você tem mais concentração por unidade de massa.
— diz Cabelo.
Linhas de pesquisa diferentes
O pesquisador Luis Carvalho, da Embrapa Cenargen, tem uma opinião diferente e investe em outra linha de pesquisa. Ele acredita que a cultivar de mandioca ideal para a produção de etanol deva ter a parte tecnológica de pós-colheita resolvida e com maior facilidade no processamento. Por isso, Carvalho estuda o uso das mandiocabas, que acumulam açúcar ao invés de amido. A principal vantagem da utilização destas variedades da mandioca seria a tecnologia de processamento e extração de álcool. Porém, as mandiocabas são originárias da Região Amazônica e não se acostumam com áreas diferentes no País. A produtividade destas variedades, até agora, é muito baixa, o que inviabiliza o cultivo.
— Essa variedade é desenvolvida juntamente com o Eduardo Alano, que faz a parte de melhoramento. Em Belém, ela já está com a produtividade em torno de 60 hectares, o que é muito bom, mas no Cerrado ela ainda está em torno de seis a oito toneladas por hectare. Quando se for comparar a mandioca com a cana-de-açúcar ou outra matéria-prima para a produção de álcool se deve fazer a equivalência energética e não a de produtividade, porque você tem que comparar energia com energia — ressalta Carvalho.
Animados com o desenvolvimento da pesquisa brasileira, um grupo de técnicos do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Costa Rica visitou a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical no mês de julho, quando o melhorista Vanderlei Santos mostrou os potenciais da mandioca ao grupo. Ele acredita que o ideal seria o cruzamento entre as variedades de mandioca comum com as mandiocas açucaradas. Dessa forma, ele acredita que os problemas com produtividade seriam diminuídos e o processamento facilitado.
— Pelo o que nós temos discutido até agora, eu diria que a mandioca passou muito tempo sem ser devidamente valorizada pela pesquisa, ao contrário da cana-de-açúcar, à qual foi aportado um grande volume de recursos. É necessário fazer mais pesquisas e realizar cruzamentos entre as mandiocabas e a mandioca comum. Existe também a possibilidade de exploração do álcool para atividades nobres, como a perfumaria, ou para produção de etanol para regiões mais distantes do País como a Amazônia, onde não se pode plantar cana-de-açúcar — destaca o melhorista da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.
|